Na política, centro é a posição caracterizada como uma interseção dentro do espectro esquerda-direita. Para alguns, há apenas duas posições políticas: a esquerda e a direita. Porém, além dessa dicotomia, há o centrismo aderido por moderados. Vertentes do liberalismo, como o liberalismo social e a terceira via, se enquadram no centro uma vez que defendem pontos de vista considerados de esquerda pela direita e pontos de vista considerados de direita pela esquerda.
Centristas não defendem nem socialismo nem capitalismo absoluto, mas veem a necessidade de conciliar capitalismo com atenção a carências sociais numa democracia, podendo ser mais culturalmente liberais. Para eles, não deve haver extremismos ou intransigências na sociedade. Os seus principais valores são: oposição aos extremos sustentado pelo equilíbrio que cria a tolerância que defende a coexistência. Entretanto, há partidos e políticos que se descrevem ou são descritos como "centristas" por serem sincréticos ou, de fato, fisiologistas.
O eleitorado pode se identificar com centristas por uma série de razões, como por exemplo pragmatismo, chegando a ser sugerido que eleitores votam em partidos centristas por razões puramente estatísticas.
Também existem outras posições derivadas do centro, como a centro-esquerda e a centro-direita, mas, como os seus nomes indicam, a primeira pertence ao espectro da esquerda e a segunda ao da direita.
Histórico
Século XVIII e XIX
O centrismo faz parte do espectro esquerda-direita que se desenvolveu durante a Revolução Francesa. Quando a primeira Assembleia Nacional francesa foi organizada, os conservadores reacionários sentaram-se nos assentos à direita do presidente da Câmara, enquanto os radicais sentaram-se à esquerda do presidente da Câmara. Os moderados que não eram afiliados a nenhuma das facções ocuparam as cadeiras ao centro e passaram a ser conhecidos como centristas. Embora o liberalismo tenha começado como um desafiante de centro-esquerda ao conservadorismo, veio a ocupar o centro político da política ocidental no início do século XIX, uma vez que também se opôs ao radicalismo e ao socialismo. O apoio liberal ao anticlericalismo e aos direitos individuais desenvolveu-se em oposição ao conservadorismo, estabelecendo os ideais que acompanhariam o liberalismo à medida que se tornasse a ideologia centrista predominante na Europa.
O centro tornou-se uma força importante na Inglaterra e na França após as Guerras Napoleônicas. O centrismo inglês veio dos Whigs enquanto o centrismo francês foi apoiado pelos doutrinários, como Pierre Paul Royer-Collard e François Guizot. O bonapartismo de Napoleão III trouxe o conservadorismo francês para o centro quando manteve elementos da revolução da classe trabalhadora. Os impérios foram forçados a manter o centro político, evitando políticas reacionárias ou revolucionárias que poderiam afetar sua estabilidade. O liberalismo centrista foi mais lento a desenvolver-se fora das grandes potências da Europa Ocidental.
Na década de 1830, o conservadorismo e o radicalismo na Europa Ocidental iniciaram uma mudança em direção à moderação, à medida que aceitavam ideias associadas ao liberalismo centrista. O Reino Unido foi poupado de muitas revoluções durante o início do século XIX pois os seus conservadores assumiram uma posição centrista e expressaram vontade de se comprometer com o forte elemento radical da nação. À medida que o radicalismo declinava na Europa Ocidental, o liberalismo e o conservadorismo tornaram-se os dois movimentos políticos dominantes. Os EUA viram um movimento liberal centrista desenvolver-se no final do século XIX através de vertentes anticorrupção dentro do Partido Republicano. O movimento radical deu lugar ao centrismo após a década de 1870, quando ambos se uniram em torno de ideais de republicanismo, secularismo, auto-educação, cooperação, reforma agrária e internacionalismo. No final do século XIX, o agrarismo tornou-se um movimento político significativo na Europa para representar os interesses dos agricultores.
A ciência social ocidental entrelaçou-se com o centrismo no século XIX. À medida que as universidades de investigação se tornaram mais comuns, a defesa da reforma centrista foi assumida pelos acadêmicos. Em vez de se envolverem em ativismo direto, consideraram questões sociais e apresentaram as suas conclusões como ciência objetiva. Os liberais centristas na Europa aceitaram o racismo científico no século XIX mas rejeitaram o conceito relacionado de darwinismo social. Em vez da ideia de que as raças não brancas não poderiam alcançar uma civilização de estilo europeu, os liberais centristas acreditavam que sim, mas que levariam mais tempo para o fazer.
Partidos
O primeiro partido de centro foi o alemão Partido do Centro Alemão, que começou em 1848 no parlamento de Frankfurt, de inspiração católica. Se manteve e resistiu ao nazismo, estando na base da democracia cristã do pós-guerra. A partir de 1917, o Centro Católico Português adotou uma postura considerada centrista, se afastando quer dos monárquicos, à direita, quer dos republicanos e sugerindo que os católicos acatassem as regras do jogo democrático da Primeira República. Determinados grupos democratas-cristãos franceses retomaram a designação e, por meio do político Jean Lecanuet, criaram o Centro dos Democratas Sociais (em francês: Centre des Democrates Sociaux, CDS), o que motivou os portugueses Diogo Freitas do Amaral e Adelino Amaro da Costa a fundarem em julho de 1974, o Partido do Centro Democrático e Social. Na Espanha, o líder da transição para a democracia, Adolfo Suárez, liderou nas eleições de 1977 e de 1979 a União de Centro Democrático.
Fundamentos
Tradicionalmente, o termo "centrismo" tem uma conotação de ter uma posição vaga e carecer de princípios ou fundamentos filosóficos, além de basear-se, na melhor das hipóteses, na busca por acordos baseados na crença (racional ou não) na "boa-fé" kantiana ou na virtude supostamente inerente ao meio-termo aristotélico.
Por esse ângulo, o centro é comumente visto como uma posição política típica da democracia representativa, que é caracteriza como uma ideologia carente de concepções dogmáticas dos indivíduos, da sociedade e de ordem política, e com posições que para alguns podem parecer elitistas.
Essa percepção é questionada por pensadores estadunidenses como Alvin Goldman, Alvin Plantinga, Ernest Sosa e Linda Trinkaus Zagzebski que, baseados na filosofia analítica, buscam resolver o que veem como falsos dilemas por meio do encontro do "terceiro excluído". Daí surgem posições como o "centro radical", concebido considerando que a afirmação simultânea de que os princípios dos extremos políticos não só não é contraditória/utópica, mas é um ato válido para a virtude epistêmica que permite superar aparentes dicotomias como, por exemplo, "ou socialismo ou capitalismo". Assim, por exemplo, um centrista pode alegar que tanto a cooperação do socialismo quanto a competição do capitalismo são necessárias para o desenvolvimento econômico, a fim de produzir uma solução que encoraje o capital e a classe trabalhadora a produzirem em harmonia a riqueza necessária.
Posições favoráveis à conciliação dos princípios da liberdade e da igualdade também podem ser identificadas no "Liberalismo de Centro", por meio de livros como Political Liberalism e A Theory of Justice de John Rawls, tendo o último revigorado o estudo da filosofia política normativa nas universidades anglo-americanas.
No Brasil
Atualmente no Brasil, a maior parte dos partidos se posiciona como "centrista" por integrarem o Centrão. Porém, há partidos ideologicamente centristas, a exemplo do Cidadania e do REDE.
Ver também
- Centrismo radical
- Liberalismo social
- Terceira via
- Economia social de mercado
- Ordoliberalismo
- Radicalismo
- Utilitarismo
Referências
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