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A poesia é um gênero literário que faz uso de uma linguagem musical, figurada e criativa para veicular expressões artísticas, em contraste com a linguagem mais simples da prosa e mais cênica do drama. Um texto que contém poesia é chamado de poema e pode ser lido ou cantado, e uma pessoa que escreve poemas é chamada de poeta.
A poesia é talvez a expressão artística mais cultivada em todo o mundo e constitui uma atividade essencial da experiência humana, tendo presidido "ao nascimento de todas as literaturas". Embora tenha assumido diferentes formas ao longo da história e das culturas humanas, ela foi sempre marcada por uma forte relação com a música e com a expressão subjetiva. A disposição do texto em versos e o emprego massivo de figuras de sonoridade, como a aliteração e a assonância, são características presentes em quase os poemas já escritos, sejam eles feitos para serem cantados ou apenas para serem lidos. A presença musical nos poemas é tão forte que muitas culturas artísticas, como o hip hop, tem como principal e quase único artifício lírico a cadência verbal e a sonoridade, e no senso comum, acredita-se que a poesia consiste em expressar sentimentos por meio de versos e rimas, o que é considerado uma definição reducionista desde Aristóteles.
A atividade poética foi sempre marcada por uma forte relação com a religião e com a filosofia, sendo que a maioria dos textos sagrados e reflexivos possuem forte linguagem poética. Muitas sociedades, como a Grécia Antiga, cultuavam grandes poetas, tais quais Homero, como figuras mitológicas, e muitos governos, como o Império Romano, homenageavam e patrocinavam grandes poetas nativos, como aconteceu com Virgílio e Horácio. Nas sociedades contemporâneas, a poesia é sobretudo uma forma de entretenimento e um produto capitalista, sendo ela um dos principais investimentos da indústria cultural.
Conceito
O termo vem do grego poíesis e indica a ideia de "criar". Segundo Aristóteles, a poesia seria o "impulso do espírito humano para criar algo a partir de imaginação e dos sentimentos", relacionando-se diretamente ao processo de mimese, que é a reprodução estética da "realidade percebida pelos sentidos", podendo assim ser empregado como sinônimo de arte.
Nos tempos modernos, porém, costuma-se associar a poesia especificamente à literatura. Em geral, aborda-se a poesia a partir de uma lógica formalista, e em geral, com foco no lirismo. O Dicionário Aulete a define como a "forma de expressão artística através de uma linguagem em que se empregam, segundo certas regras, sons, palavras, estruturas sintáticas etc.". O Mini Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa a define como a "arte de criar imagens, de sugerir emoções por meio de uma linguagem em que se combinam sons, ritmos e significados". O crítico literário Afrânio Coutinho a define como "a forma literária em que o artista utiliza uma série de meios intermediários - os artifícios líricos - para traduzir a sua visão da realidade e veiculá-la ao leitor".
Porém, outros autores rejeitam essa abordagem e procuram seguir uma linha "mais ontológica" de pensamento. O professor Massaud Moisés, por exemplo, define a poesia como "a expressão metafórica do eu, cujo resultado, o poema, pode ser em verso ou em 'prosa'". Já Ariano Suassuna, em seu livro Iniciação à Estética, define a poesia como “uma linguagem com predominância da imagem e da metáfora sobre a precisão e a clareza”.
Nem todos os autores modernos, porém, restringem a abrangência do conceito de poesia à literatura. Inclusive, grande parte dos teóricos contemporâneos trabalha o conceito de poesia como uma forma de linguagem em geral, e não apenas uma forma de linguagem verbal ou literária, como é o caso do filósofo Jean-Luc Nancy, que expande o significado de poesia ao afirmar que ela "designa tanto uma espécie de discurso, um gênero no seio das artes, ou uma qualidade que pode apresentar-se fora dessa espécie ou desse gênero, como pode estar ausente nas obras dessa espécie ou desse gênero".
Vale também destacar o conceito de função poética, criado pelo linguista Roman Jakobson. Segundo a teoria, a função poética "consiste na projeção do eixo da seleção sobre o eixo da combinação dos elementos linguísticos. Centrada na mensagem, essa função caracteriza-se pelo enfoque na mensagem e em sua forma". Ou seja, ocorre quando, em um texto, tantos os significantes (fonemas. morfemas e palavras) quantos os significados adquirem fundamental importância para a comunicação.
Em geral, o termo é empregado para se referir tanto a uma forma de linguagem quanto a uma atividade estética, como observa Władysław Tatarkiewicz. Na linguagem popular, é muito comum o emprego das palavras poesia e poético como termos sinônimos de "beleza", "inspiração" e "elevação de ideias".
Linguagem poética
A linguagem empregada pela poesia tem sido alvo de debates desde o século XX, com o advento do modernismo. Até então, entendia-se que a linguagem poética consistia essencialmente na produção de um ritmo verbal, alcançado pela regularidade silábica e pela alternância de sílabas fracas e fortes, e de uma melodia fonética, alcançada por meio de figuras de sonoridade, como a rima. Porém, com a popularização de novos métodos literários, como o verso livre de Walt Whitman, e com o surgimento da moderna teoria literária, a linguagem poética se tornou ponto de extenso debate entre os teóricos.
Desde então, a maioria dos autores consideram que a linguagem da poesia é formada por dois elementos: ritmo poético e imagens poéticas. Mas alguns autores, como Ezra Pound, consideram três: melopeia (que corresponde ao ritmo poético), fanopeia (que corresponde às imagens poéticas) e um outro, chamado logopeia.
A melopeia, ou ritmo poético, consiste na produção de musicalidade e correlações emotivas por meio dos fonemas e do ritmo prosódico da fala. Para isso, empregam-se artifícios variados, como métrica, rimas, aliterações, assonâncias etc. A fanopeia, ou imagem poética, consiste na projeção de objetos na imaginação visual por meio da sua evocação textual, de modo a produzir sensações estéticas. Para isso, empregam-se, além da descrição e da narração, metáforas, símbolos e outros tropos. A logopeia, por fim, consiste na produção de associações intelectuais e emocionais a partir do manejo estratégico do sentido veiculado pelas palavras. Para isso, emprega-se cada palavra cuidadosamente, recheando o texto com antíteses, paradoxos, oximoros e outros recursos estilísticos.
Lírica e épica
Ao longo da história, vários tipos de poesia foram produzidos pelas mais diferentes sociedades. Contudo, dois gêneros de poesia ecoaram em todas elas: um mais pessoal, que procurava transmitir uma forma particular de interpretar o mundo, ora pela expressão de sentimentos, ora pela transmissão de ideias, que foi cultivada por poetas como Davi, Horácio, Petrarca e, nos dias de hoje, por variados compositores musicais e poetas; e outro mais cultural, que procurava transmitir ou refletir acerca de narrativas mitológicas e lendas populares, com o intuito de pensar a história de um povo, que foi cultivado por poetas como Homero, Viasa, Dante e, mais recentemente, João Cabral de Melo Neto, com o poema Morte e vida severina, e Renato Russo, com a canção Faroeste Caboclo. Ao primeiro, massivamente popular, os estudiosos costumam chamar de poesia lírica, e ao segundo, poesia épica.
O termo lírica vem do grego e se refere a um instrumento musical muito utilizado por cantores da época: a lira. Os poetas que produziam esse tipo de música procuravam exprimir experiências e opiniões pessoais, falando comumente de eventos que ocorriam dentro da pólis. Já o termo épica vem do grego epos, que significa "canto" ou "narrativa". Ela recebe esse nome por conta das canções compostas por aedos e rapsodos, como Homero, sobre feitos heroicos e eventos grandiosos da mitologia grega.
Na contemporaneidade, há uma certa tensão entre os estudiosos acerca do conceito exato de poesia lírica e poesia épica. Para alguns autores, como Massaud Moisés, o lirismo consiste na "poesia da confissão ou poesia da emoção", enquanto para outros, como Afrânio Coutinho, consiste na veiculação de uma "visão da realidade", não requerendo obrigatoriamente a expressão emotiva. Quanto à épica, desde o início do século XX, onde autores como T. S. Eliot e Fernando Pessoa procuraram reformar o gênero, discute-se se a poesia épica requer a narração de um mito ou lenda popular, ou apenas a reflexão mitológica e cultural.
Origem
A poesia aparece entre os primeiros registros da maioria das culturas letradas, com fragmentos poéticos encontrados em antigos monólitos, pedras rúnicas e estelas. Contudo, a maioria dos estudiosos ratifica que o seu surgimento precede à escrita, visto que muitos dos primeiros poemas de que se tem notícia parecem ter sido compostos em forma poética para ajudar a memorização e a transmissão oral nas sociedades pré-históricas e antigas. O mais antigo de que se tem registro é a Epopeia de Gilgamés, originado no terceiro milênio antes de Cristo, na Mesopotâmia, atual Iraque, que foi redigido em escrita cuneiforme em tabletes de argila e, posteriormente, papiro. Outros registros antigos de poesia épicas incluem os textos gregos Ilíada e Odisseia; os iranianos Avestá, Gatas e Iasna; o romano Eneida; e os indianos Ramaiana e Maabárata.
A poesia, ao longo do desenvolvimento da sociedade, foi usada para inúmeros fins, desde a expressão lírica e épica até o discurso formal e diplomático, invectivas políticas e textos médicos. Os esforços dos pensadores antigos em determinar a natureza da poesia resultou em uma disciplina teórica chamada de poética, considerada a predecessora da teoria literária, cujo primeiro registro até então descoberto vem da Grécia Antiga, com a Poética de Aristóteles.
Ver também
- Poesia de Portugal
- Poesia do Brasil
- Poesia épica
- Poeta de guerra
- Poíese
- Ode
- Elegia
- Écloga
- Rondó
- Soneto
- Madrigal
- Versificação
Referências
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- Muitos estudiosos, particularmente aqueles que pesquisaram a tradição homérica e os épicos orais dos Balcãs, sugerem que a escrita antiga mostra traços nítidos de velhas tradições orais poéticas, incluindo o uso de frases repetidas como blocos construídos em grandes unidades poéticas. Uma forma rítmica e repetitiva poderia fazer uma longa história mais fácil de ser lembrada e recontada, antes da escrita estar disponível como uma ajuda para a memória.
- Para uma breve discussão recente, ver Frederick Ahl and Hannah M. Roisman. The Odyssey Re-Formed. Ítaca, Nova Iorque: Cornell University Press, (1996), p. 1–26, ISBN 0-8014-8335-2. Outros sugerem que a poesia não necessariamente precedeu a escrita. Veja, por exemplo, Jack Goody. The Interface Between the Written and the Oral. Cambridge, England: Cambridge University Press, (1987), p. 98, ISBN 0-521-33794-1
- N.K. Sanders (Trans.). The Epic of Gilgamesh. London, England: Penguin Books, edição revisada (1972), p. 7–8
- Por exemplo, no mundo árabe, a diplomacia foi muito executada através da forma poética, no século XVI. Veja Natalie Zemon Davis. Trickster's Travels. Hill & Wang, (2006), ISBN 0-8090-9435-5
- Exemplos de invectiva política incluem e o epigramas de Marcial e Catulo
- Na Grécia Antiga, trabalhos médicos e acadêmicos muitas vezes eram escritos em forma de métricas. Um milênio e meio depois, muitos dos textos médicos de Avicena foram escritas em versos.
Bibliografia
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